30 ANOS. A FESTA JÁ COMEÇOU!
6 de outubro de 2023Relato biográfico: Jorge Henrique Barro
16 de outubro de 2023Antonio Carlos Barro
Pastor, escritor, professor e co-fundador da Faculdade Teológica Sul Americana, atual Diretor de Relações Internacionais da FTSA
Um pouco sobre mim
Sou do interior do Estado de São Paulo, da cidade de Marília. Nasci no patrimônio Padre Nóbrega em uma família de baixa renda, de pais agricultores. Cresci na lavoura de café. Estudei em Escola Pública, fiz o colegial no SENAC. Aos 19 anos mudei-me para São Paulo. Tenho um irmão e duas irmãs: Jorge, Marina e Márcia, todos casados. Casei-me com Priscila e temos dois filhos: Tatiana e André.
A minha família é de origem Italiana, tanto meus avós paternos como maternos. No contexto italiano, a família tem muita importância em termos de apoio, de estar junto. Não sou de demonstrar meus sentimentos, mas amo muito a minha família. Em termos religiosos, sou originário de família tradicionalmente católica romana. Desde cedo frequentava bastante a igreja, participando dos trabalhos e das novenas. Crescemos em um ambiente religioso muito saudável. Algum tempo depois, a minha irmã, depois a minha mãe, e toda a minha família se filiaram à Igreja Presbiteriana em Marília. Eu fui um dos últimos a me juntar a eles, quando tinha cerca de 15 anos de idade.
Posso dizer que no início, não entendi muito bem o significado do Evangelho. Frequentei a igreja por uns quatro anos até que, em 1973, veio para Marília um seminarista do Seminário Palavra da Vida, Lizaneas Moura, que me escolheu para discipular e fez isto por uns 10 meses. Foi nesse período de discipulado e estudo intenso das Escrituras que eu compreendi a salvação, o valor do Evangelho e o papel de Cristo em nossas vidas. A partir desse momento a minha vida religiosa se desenvolveu.
Quando trabalhava no Banco Bradesco, entrei num curso de Administração de Empresas, mas não gostei muito. Acabei desistindo e comecei a fazer cursinho pensando em outra área. Posteriormente, fui para São Paulo, onde me filiei a um grupo de jovens denominado ALVO - composto por jovens de várias igrejas, bem moderno para a época, em 1974. Esse grupo se reunia todos os sábados, porque no domingo cada um tinha de ir para sua igreja local, e se firmava em um slogan: ECO - Estudar, Compartilhar e Orar. A equipe era dividida em vários segmentos: teatro, estudo bíblico, evangelização. Fazíamos teatro nas praças, evangelizávamos nas favelas. Lá conheci o Johny, um dos fundadores dos Atletas de Cristo no Brasil, que num certo dia me perguntou: “Por que você não faz o seminário?” Isso era uma coisa que eu não tinha considerado. Mas, aquela pergunta passou a me inquietar. Comecei a orar e pedir algumas respostas de Deus nessa direção. Assim, mesmo sendo presbiteriano, eu fui para o Seminário Batista Regular em São Paulo, onde fiquei por três anos.
Minha formação não teve uma sequência normal. Quando eu estava concluindo o terceiro ano do seminário, já entrando no quarto ano, eu atendi ao apelo da minha igreja local. Eu frequentava, nessa época em São Paulo, a Igreja Presbiteriana Unida (da IPB). A igreja queria ter a experiência de enviar um missionário para o campo, sendo sustentado pela própria igreja. Lendo essa notícia no boletim, eu resolvi me candidatar. Foi uma coisa repentina e inexplicável. Eu me apresentei ao pastor da igreja, o Rev. Denoel Nicodemos Eller, dizendo que queria ir para o campo, o que para ele também foi uma surpresa. Na ocasião, eu trabalhava há quatro anos no Banco Banespa, tendo sido promovido para o cargo de assessor de um dos gerentes em uma agência grande e central. Cerca de 15 dias depois eu pedi demissão do banco, tranquei o curso no seminário e fui para região amazônica.
Ao me candidatar, a igreja me remeteu ao presidente da Junta de Missões Nacionais da Igreja Presbiteriana do Brasil, o Presbítero Abílio Coelho, em Campinas – SP. Ele me disse que o campo seria perto de Itaituba, na cidade de Rurópolis - Presidente Médice no estado do Pará, cidade construída pelo governo para servir de base para o desenvolvimento da Amazônia. Perguntei onde era esse local, e ele respondeu: “Você terá que comprar um mapa e se orientar para chegar até lá”. Esse foi meu treinamento missionário. Ainda perguntei: Como eu vou? A missão havia comprado um fusca, então, já saí da casa dele com o veículo.
Imagine, fiz tudo isso quando a Priscila estava viajando de férias. Quando ela chegou, contei que estava largando o seminário, deixando o Banespa, e indo para o campo missionário. Priscila e eu estávamos planejando ficar noivos para nos casarmos dali a um tempo. Todo mundo se assustou com a notícia, claro, até eu mesmo. Então, peguei o fusca e iniciei a viagem pela estrada Belém-Brasília. Gastei uma semana para chegar lá. Eu ia parando de cidade em cidade e pregando, indo nos estudos bíblicos das igrejas, procurando os pastores para hospedar-me. Finalmente, cheguei em Itaituba para encontrar o meu supervisor e depois partir para Rurópolis, onde não havia nenhuma igreja. Iniciei o trabalho debaixo da orientação do missionário, Rev. Elias Medeiros, professor de missões no Seminário Reformado em Jackson, Mississippi, que precisou se ausentar do campo por motivo de enfermidade da esposa. Assim, fiquei sozinho cuidando de Itaituba e esperando a oportunidade para ir a Rurópolis, o que nunca aconteceu. Ao findar do primeiro ano, retornei a São Paulo para o casamento com a Priscila que depois foi comigo para o campo.
Após mais um ano, voltei para São Paulo para terminar o seminário e, ao finalizar o curso, em 1980, recebi o convite para vir a Rolândia, no norte do Paraná, pastorear a Igreja Presbiteriana daquela cidade. Priscila e eu ficamos um ano e meio ali. Nesse período, desejando prosseguir meus estudos, lembrei-me do missionário com o qual tive contato no campo missionário, e que fizera o mestrado em Jackson, Mississippi. Escrevi para aquela escola e recebi orientações para fazer alguns exames, providenciar documentos e informações, como carta de referência e posição financeira. Como eu não sabia inglês e estava tentando estudar esta língua, pedi para ir dois meses antes com a finalidade de aprender e fazer o exame lá. Isto ocorreu no ano de 1982. Eu fui sozinho primeiro. Chegando lá, eu me envolvi com a escola e comecei a trabalhar para eles, dirigindo o carro, buscando gente no aeroporto e pintando casas. Acabaram não me pedindo o exame de inglês. Para me comunicar, eu abria o dicionário, escrevia alguma coisa ou alguém escrevia para mim. Contudo, em dezembro de 1983, eu concluí o mestrado em Missiologia. Logo em seguida, retornei ao Brasil para a cidade de Londrina e assumi o pastorado da Igreja Presbiteriana de Vila Nova, onde permaneci até 1987. Nesse período tive o privilégio de dar aulas no Seminário Teológico de Londrina, Antonio de Godoy Sobrinho. Um fato marcante nesta escola foi que os alunos fizeram uma eleição para o paraninfo da primeira turma do seminário e eu fui escolhido. Até hoje eu reputo esta experiência como uma as mais marcantes em minha vida. Em 1988, voltei aos Estados Unidos para fazer o doutorado - Estudos Interculturais – no Fuller Theological Seminary.
Uma ideia, um sonho
Quanto ao Seminário Sul Americano, posso dizer que a ideia não começou em Londrina. De fato, a ideia surgiu nos Estados Unidos quando eu estava estudando no Fuller. Tivemos uma reunião da qual participaram: Douglas Spurlock, missionário da SEPAL; o Jorge, meu irmão que estava nos visitando; O Rev. João Barbosa, que se preparava para ser missionário na África; Rev. Eude Garcia, Rev. Timóteo Carriker, o pastor Manoel, da Igreja Quadrangular de Manaus e o Rev. Elias Dantas, pastor presbiteriano que desenvolvia seu ministério nos Estados Unidos. Reunimo-nos em uma das salas do Fuller para conversar sobre o futuro seminário no Brasil, que levaria em conta o contexto brasileiro, a teologia brasileira, latino-americana, que tivesse um currículo voltado para nossa realidade, para o nosso contexto. A gente não sabia muito disso, mas tinha uma ideia de como seria essa escola. Depois dessa reunião, continuamos a orar sobre este assunto.
Voltei para o Brasil, mas a ideia continuava na minha cabeça. Um dia o Rev. Denis me chamou e disse: “Se você for começar o seminário a hora é agora.” Então, no final de outubro de 93, chamei algumas pessoas: o Jorge (que já estava incentivando bastante), o Carlos Augusto, o Lucimar, Luís Silvério, Marcio Silva e anunciei: “Vamos começar o Seminário, vamos começar em março do ano que vem”. Depois compartilhei também com outros líderes, como o Wander que está conosco desde o início. Vale destacar que a gente não tinha nada, só tinha uma ideia, uma visão. Reunimos o grupo e marcamos a data para começar. Anunciamos ao Presbitério de Londrina, do qual fazíamos parte; apesar do seminário não estar atrelado a nenhuma igreja, foi interdenominacional desde o princípio. Devido a amizade, o pessoal era quase todo presbiteriano. Mas, alguns como o Paulo Roberto de Rolândia e o Hans Udo Fucks não eram. Depois falamos sobre isso na reunião do Sínodo na cidade de Maringá, eu e o Silvério. Em março de 1994, tivemos, então, a primeira turma do seminário.
A escolha do nome e da cidade
Com respeito ao nome do seminário, inicialmente pensamos em Seminário Teológico Filadélfia, já que seria instalado no Instituto Filadélfia. É um nome comum e ao mesmo tempo um nome extremamente evangélico e bíblico. Essa era a ideia inicial. No entanto, num certo dia, não me lembro porque, talvez tenha sido uma inspiração, eu chamei o Jorge e disse: “Olha, muda tudo. Não vai ser mais esse nome”. “Então qual vai ser o nome?” – perguntou. “Seminário Teológico Sul Americano” - respondi. “Por que esse nome?” – insistiu. “Eu creio que esse nome expressa melhor aquilo que é a intenção nossa, que é ter uma teologia voltada para a realidade latino-americana e, especialmente, a brasileira”. E o pessoal gostou do nome e assim foi.
A escolha de Londrina para a implantação do seminário se deu, primeiro, por razões práticas. Nós estávamos nesta cidade, e as pessoas com as quais eu conversei todas elas mostraram um interesse enorme na medida partilhávamos do sonho. Além disso, Londrina é uma cidade estratégica nesta região do Brasil. Quando a gente olha no mapa, Londrina está localizada próxima ao Estado de São Paulo, não tão longe da própria cidade de São Paulo e de outras cidades grandes, como Curitiba, Maringá, Marília, Ourinhos, Presidente Prudente. Então, isso era relevante. Outro fator considerado foi a facilidade de se locomover à Londrina. Na época, o Mercosul estava em efervescência, colocando Londrina como uma possível rota de comércio entre países da América do Sul. Assim, era também oportuno preparar pessoas para trabalhar nos países desta região da América. Londrina ainda oferece uma vantagem em relação a outras grandes cidades, o custo de vida mais baixo. É mais fácil enviar um aluno para Londrina do que para São Paulo, por exemplo, ou para Campinas, outro centro teológico. Alguns desses aspectos somaram na decisão de iniciar o Seminário nesta região do Norte do Paraná.
O início foi cheio de aventuras. Nós éramos pastores e cuidávamos de várias obrigações. Mas, todos os que começaram esse projeto compraram a ideia e se dedicaram ao máximo. O seminário passou a fazer parte da nossa vida, não era um simples apêndice ministerial. Passou a ser assim o diário nosso, lutamos pelo seminário. Dos alunos que vieram naquele começo, boa parte era de Londrina, até começarmos a receber alunos de fora. Com isso, aumentou nossa demanda e a gente fazia tudo: precisávamos arrumar casa para os alunos, uma república, arrumar móveis, ser fiador da casa alugada para os calouros, arrumar livros, conseguir alimentos. Assim também nós éramos tudo no começo: diretor, presidente, faxineiro, professor, exercendo multifunções. Os professores não recebiam nenhum salário, eram voluntários. A secretária, a Claudia, recebia uma pequena verba. Realmente, nos entregamos ao projeto de corpo e alma, não medindo esforços para que o seminário desse certo. Todo mundo colaborava de uma maneira abnegável. No segundo ano, o Rev. Eduardo Pellissier veio para Londrina e se juntou a nós, tornando-se igualmente uma figura marcante na escola. Também não podemos esquecer da Leda Assunção que nos ajudou e muito apoiou no início de tudo. A biblioteca, inclusive, leva o nome da irmã dela, a Beatriz, uma médica da cidade que faleceu e doou os primeiros livros para o seminário. Destaco que o nome do grêmio acadêmico é de outra mulher: Martha Fahl. Quero citar ainda o Ênio, que deu uma importante ajuda no início e o Rev. Luís Wesley que compartilhava das nossas conversas e sonhos sempre que vinha a Londrina.
Os primeiros desafios
Nas dependências do Colégio Londrinense (Instituto Filadélfia) ficamos por três anos; um período difícil. Acho que o marco desses três anos iniciais foi o sacrifício das pessoas, de todo voluntariado, que fez o seminário crescer. Os professores tinham de trabalhar fora e depois dar aulas. Naturalmente que a gente sabia desse sacrifício, mas não podíamos pagar nada. Era uma grande dificuldade, pois os professores tinham várias outras atividades. Somente a partir de 1996, começamos a pagar um pouquinho aos professores e funcionários. No entanto, como o pessoal não estava acostumado a receber, qualquer ajuda era bem-vinda. As dificuldades financeiras advinham do fato do seminário ser interdenominacional (e ainda é), por isso não recebia verbas de igrejas e de nenhuma organização. Nós não apenas não recebíamos como também colocávamos dinheiro do próprio bolso para a escola.
Associado a este desafio financeiro estava o da credibilidade. Quando iniciou, o seminário não tinha nome, não tinha probabilidade de nada, e assim, quem é que se arriscaria a estudar em uma escola naquela condição? Os alunos que vinham, vinham por conta própria, porque queriam estudar conosco, pela amizade e confiança em Deus. Sem apoio de igreja ou de qualquer instituição. Muitos desses alunos não tinham dinheiro para pagar os estudos e, consequentemente, o seminário ficava sem recursos para a compra de livros, para pagar os professores, para comprar material e se expandir. Esta realidade nós vivenciamos nos cinco ou seis primeiros anos. Outro desafio foi o de vencer a resistência das igrejas. As igrejas históricas, presbiterianas, batistas, metodistas, por exemplo, têm suas próprias escolas, sendo então normal mandar os seus alunos para elas. Vencer esta resistência denominacional só foi possível através da amizade e do companheirismo, fazendo visitas aos pastores, levando-os até à escola para conhecê-la, mas principalmente pela qualidade de ensino que oferecíamos. A partir da formação da primeira turma, começamos a ganhar mais confiança e a ter mais tranquilidade para levar o projeto adiante.
Dentre os acontecimentos marcantes, não há como esquecer o momento quando tivemos de sair das dependências do Colégio Londrinense, sem ter lugar definido para onde ir. Esse não é um assunto do qual gosto de falar. Muita coisa foi dita, mas prefiro crer que a verdade desta história também será revelada um dia, também será conhecida na eternidade. O grupo que dirigia o Instituto, naquela época, alegou que precisava do imóvel, do pedaço que a gente ocupava – e era só uma salinha! Então, aquele foi um momento difícil, porque a gente não tinha para onde ir. Nessa altura já estávamos no terceiro ano, com três turmas.
A força das parcerias
Então, foi marcante a presença do Rev. José Antonio, um dos pastores da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de Londrina e meu ex-aluno no seminário daquela denominação. Ele disse que pediria ao conselho da igreja para nos ceder algumas salas do Espaço Esperança. Para a nossa surpresa Deus abriu as portas e lá ficamos por três anos. Outro acontecimento marcante foi a formatura da primeira turma. Ver o coroamento de quatro anos de trabalho e depois receber notícias desse pessoal: alguns ordenados nos presbitérios e outros pastoreando nos mais diferentes lugares. Tem gente da primeira turma que está no Canadá, por exemplo, plantando igrejas. A formatura da primeira turma foi muito emocionante e aconteceu nas dependências do Espaço Esperança. Aliás, muitas de nossas formaturas são realizadas neste local ainda hoje.
Devo destacar a participação do Jorge, meu irmão, na história do seminário. Um dado curioso é que a primeira igreja que ele pastoreou também foi a minha primeira igreja, em Rolândia. Não fui eu que o indicou, eu estava nos EUA. Entendo que Deus estava, na sua soberania, nos trazendo para esta região. Como eu disse, gosto mais de ficar pensando; não sou atraído pela área de planejamento. E ao Jorge já atrai bastante. Então, eu creio que nesse sentido ele completa o meu ministério. O Jorge teve um papel muito importante porque gosta de organizar as coisas. No início do seminário (porque passados dois anos foi estudar nos Estados Unidos) ele desempenhou esse papel fundamental como organizador, como quem olhava os detalhes e cuidava da parte acadêmica. Enfim, a organização ficou toda com ele. Depois o Pr. Eduardo ajudou também neste setor, nos motivando a aparelhar a escola e a comprar computadores.
Eu estudei a teologia de Orlando Costas – que é uma teologia latino-americana, voltada para a realidade do mundo, para as pessoas – o que modelou e influenciou bastante a minha visão ministerial. Creio que na Faculdade há reflexo disso. Eu me alegro de ter algumas pessoas que partilham dessa visão ministerial e de participar de alguns movimentos no Brasil, ao lado de líderes como Oswaldo Prado, Ariovaldo Ramos, Ricardo Gondim, Valdir Steuernagel. Para mim é uma alegria e um privilégio. Na verdade, eu não me sinto tão qualificado perto dessa turma, mas tem sido um presente de Deus para a minha caminhada.
Na perspectiva do Reino
Ainda temos que superar um desafio em termos de ensino teológico no Brasil: a falta de visão de parte da liderança evangélica brasileira a respeito do Reino de Deus. Refiro-me à tendência de valorizar sobremaneira a denominação ou a igreja local. É difícil entender estes grupos que colocam as suas igrejas e denominações acima do Reino de Deus. Nosso propósito, quando abrimos a nossa escola para os pentecostais históricos, as comunidades evangélicas neopentecostais, os presbiterianos, luteranos ou batistas, olhamos na perspectiva do Reino, na implantação do Reino de Deus, em prol de uma visão maior. Mas, a igreja evangélica, em geral, parece não conseguir sair do estágio infantil de valorizar apenas a sua história, a sua denominação, a sua igreja local. Isso para mim sempre foi uma dificuldade. Também é difícil para mim, ver alunos sofrendo privações quando a igreja tem recursos e tem condições! Infelizmente, a gente olha e vê uma igreja que pensa em si mesma, com verba para todos os seus programas internos, mas, não tem disposição de sustentar um aluno e ajudá-lo a se formar no seminário. A igreja evangélica, normalmente, quer o aluno formado e o pastor pronto. Ela não se preocupa com o processo da formação; não só no sentido teológico, mas, no sentido financeiro também.
Uma frase que nos orienta é esta: “preparar vidas para servir o Reino de Deus”. Desde o início, a nossa compreensão é submetida ou está debaixo desta teologia do Reino de Deus. Nós sempre trabalhamos com o conceito de que o Reino é maior, e que a Igreja é um instrumento do Reino de Deus. Por causa disso, Deus nos levou a trabalhar com os mais distintos grupos denominacionais eclesiásticos. Assim, as pessoas podem vir à nossa escola sabendo que serão acolhidas. Não agimos para incomodar uma dada tradição eclesiástica ou alguma denominação; nós queremos trabalhar com base no conceito de Reino de Deus. Nós queremos trabalhar em parceria com a igreja. Somos seus servos! Procuramos fazer sempre uma leitura do que está acontecendo na igreja, do que está acontecendo na sociedade, porque a nossa visão é a de contribuir para que a igreja continue fazendo a ponte com a sociedade. Talvez esse seja o diferencial da nossa escola. Não estamos somente lendo Teologia, estamos fazendo Teologia.
Estamos sempre participando dos congressos, conferências, simpósios, no Brasil e fora dele, muitos com uma participação efetiva da nossa escola. Sabemos que o pessoal que pensa a igreja no sentido da missão integral, olha para nós com expectativa e com muito carinho. Isso nos alegra e nos motiva para não apenas preparar pastores e pastoras, missionários e educadores cristãos, mas especialmente ajudar a igreja brasileira a refletir sobre o seu papel na sociedade. Essa é uma contribuição que a gente promove, que talvez não seja possível dimensionar o tamanho da sua abrangência, mas, eu creio que o futuro revelará.
Para sempre agradecidos
Hoje podemos ver que muitas dificuldades iniciais foram sobrepujadas. Refiro-me, por exemplo, à falta de pessoas para ajudar nas várias áreas de atuação da escola. Graças a Deus, pudemos contratar pessoas que com um excelente ministério muito nos ajudam. É importante ressaltar que a superação de grandes desafios também foi possível a partir da amizade e apoio que muitos líderes e pastores sempre demonstraram para com a nossa organização. Precisamos mencionar isso! Em Londrina, por exemplo, tivemos fundamental apoio de pastores que representam uma liderança forte e marcante na cidade: Rev. Messias Anacleto Rosa, Pr. Glênio Paranaguá, Pr. Davi de Souza e outros pastores do Conselho de Pastores de Londrina, como o Bispo João Carlos Lopes, da Igreja Metodista, que foi o primeiro professor do nosso Mestrado. A amizade dessas pessoas tem valor inestimável para nós e representa uma retaguarda moral e espiritual. Somos gratos pelo apoio que nos deram nos momentos difíceis que enfrentamos. Assim como reconhecemos a participação e compreensão de nossas esposas, pois, a gente não tinha hora; de dia na igreja e à noite na escola. Elas aceitaram o desafio que era de todos nós.
Hoje, vejo que a saída da escola, lá daquele primeiro espaço, e o que aconteceu depois, teve propósito de Deus. Se a gente não tivesse saído, como é que a gente explicaria para os americanos, que vieram nos visitar, que aquela escola não era a nossa escola? Era um dilema, naquele momento, que a gente não entendia, contudo, foi a porta que Deus abriu para a Faculdade ter o que tem hoje. A gente só precisa se curvar perante a soberania de Deus.
Quero agradecer a todos, especialmente aos alunos, e dizer que caminhar com vocês é uma marca forte na escola. Quero agradecer a Deus por vocês nos ajudarem a contar esta história. Porque, para nós, os alunos nunca foram vistos como números; é gente de carne e osso que chora e que dá risada. Eu me lembro quantas vezes a gente saía debaixo de chuva ou sol, e corria para a república de alunos para resolver problemas; porque tinha entrado ladrão, precisavam de médico, para encontrar escola para os seus filhos etc. Isso faz parte de mim também. Eu sentiria vergonha de estar num local em que você fecha as portas entre oito ou dez da noite e não sabe mais nada da vida de ninguém. Assim, somos uma escola que, apesar de ter crescido, não perdeu a sua melhor característica: ser humana.