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14 de março de 2024Luís Wesley de Souza*
Foi um dos sonhadores do STSA, professor, diretor e envolvido com o Centro Global de Missões
"Eu sou um pastor metodista. Sou metodista desde a infância e a formação é wesleyana. As minhas convicções são bastante definidas da teologia wesleyana do movimento metodista. Por outro lado, eu possuo herança vinda do meu pai e da minha mãe, que tiveram suas formações presbiterianas, assim, portanto, eu trafego também por essas águas presbiterianas e calvinistas. Quanto à minha formação, sou bacharel em teologia pela faculdade de teologia da igreja metodista. Fiz meu mestrado e doutorado no Asbury Theological Seminary na área de teologia, com tônica missiológica e na área interconfessional.
O meu primeiro ministério aconteceu em 1980, sendo que atuo há vinte anos como pastor ordenado, em torno da igreja metodista no Paraná. Devo destacar que uma boa parte da minha vida ministerial foi vivida fora dos arraiais da igreja metodista, tendo atuado na SEPAL (Serviço de Evangelização Para a América Latina), mas sempre me mantendo vinculado à instituição enquanto pastor e enquanto clérigo. Trabalhei por alguns anos na Associação Evangélica Brasileira - AEVB, o que ampliou o meu outro lado da formação transfuncional, transinstitucional, interconfessional e interdenominacional. Após isso, creio que dois anos depois que o Seminário foi fundado, eu fui para os Estados Unidos com o propósito bem definido de estudar em uma escola com tônica wesleyana, para que assim nós pudéssemos garantir uma crescente transfuncionalidade da FTSA. Eu lembro perfeitamente que, em uma das conversas com o Antonio Carlos e com o Jorge, anterior à minha ida ao exterior, a gente dizia claramente sobre a escolha onde a gente ia estudar e trazer essas riquezas de diversidades para nossa escola.
Na verdade, esse sonho do Seminário, hoje Faculdade Teológica Sul Americana, não é um sonho que surgiu apenas com Antonio Carlos e Jorge. As energias que havia entre os dois têm muito a ver com os vínculos familiares com que estão envolvidos. Mas, outros já tinham esse sonho por alguns anos. Aconteceu que a energia com ênfase familiar daqueles, juntou-se à desses outros por laços de amizade, histórias e caminhadas. Então a ideia, na verdade, tem origem muito remota, muito mais remota. Ela começou, por exemplo, quando nós começamos a caminhar - especialmente o Jorge e eu - na experiência com a Sociedade de Estudantes de Teologia Evangélica – SETE, que nasceu no final dos anos 1970 e início dos anos 80. Fui fundador desta organização junto com o Douglas Spurlock, o Jorge veio um pouquinho mais tarde, mas também se tornou uma peça chave neste processo. Ali eu identifico uma das raízes deste sonho que alguns de nós já vínhamos tendo, ainda que por algum tempo isoladamente, na ideia de preparar vidas, de preparar homens e mulheres de Deus, como uma teologia bíblica e brasileira e exercendo uma liderança para o reino de Deus, seguindo, enfim, cinco lemas que nós tínhamos naquela sociedade. Essa relação mais tarde vai ganhar uma atividade. Por exemplo, hoje nós temos nosso diretor geral e alguns outros professores que fizeram parte da SETE. Essas energias, por algum tempo e em alguns momentos, sejam lá em uma reunião no Fuller ou aqui mesmo, acabaram se confluindo em um processo energético de visões, diria que, formando assim, em certo sentido, um projeto inédito no Brasil.
Posso dizer, neste caso, que a minha inserção neste projeto da Faculdade foi em certo sentido gradativa na caminhada histórica e objetivamente no momento em que eu estava trabalhando na Associação Evangélica Brasileira e mantendo uma amizade muita próxima com o Antonio Carlos, com o Jorge. Quando eu vinha para Londrina, nós nos encontrávamos. Lembro-me perfeitamente de uma conversa que nós tivemos em um restaurante aqui na cidade em que um ouvia ao outro, motivando-nos mutuamente acerca do seminário: Vamos lá, vamos começar etc. Com isso quero dizer que não houve exatamente um momento específico ou um momento isolado da história do surgimento desta instituição. Nosso seminário vai fazer dez anos, mas sua história tem pelo menos vinte e cinco anos, porque há aspectos de caminhada, de formação de pensamentos, de personalidade de ação, de envolvimento com a missão, de movimento de missão integral na igreja brasileira e de todas estas coisas que foram criadas com relacionamentos mais próximos, possibilidades mútuas. Coisas que foram se unindo, e às quais estou chamando de energias de pensamentos e de ideias, que, por uma questão geográfica, acabaram tomando forma no encontro de tais pessoas.
Dessa caminhada, eu preciso ser honesto quanto aos dez anos, desse tempo, cinco eu estive fora, porém, apenas estive fora de forma física e geográfica, pois a minha ida ao exterior para estudar, para adquirir meu mestrado, para adquirir meu PhD, foi com o propósito de atender ao processo da própria escola. Neste sentido, eu estive por dentro de tudo o que aconteceu com a escola durante estes dez anos, numa relação de cooperação, de encorajamento, de sugestões, de percepções. No período inicial, como estava envolvido com outro projeto ministerial, que é a Associação Evangélica Brasileira, obviamente eu vinha nas reuniões que a ACESA - Associação Cristã Evangélica Sul Americana - realizava. Sou membro fundador da ACESA, fazendo parte da primeira diretoria, da diretoria oficialmente fundadora. Este momento de organização da ACESA é marcado por percepções históricas, porque não foi apenas um ato, mas um ponto decisivo no processo todo que definiu aquilo que nós somos hoje e queremos continuar sendo pelo resto da história desta instituição.
O outro momento marcante para mim, foi o da minha volta para o Brasil já com o mestrado e terminando o doutorado - finalmente agora concluído o programa - quando pude perceber o quanto a escola tinha crescido física e funcionalmente, mas principalmente ao perceber o quanto ela havia conseguido efetivar aquela visão principal. Então, o momento marcante também foi a forma com que a escola entendeu a minha chegada; a confirmação daquela visão inicial, pela qual eu oro para que nós não percamos, pois não teria sentido mais para mim se fosse diferente daquela visão inicial de transfuncionalidade. Isto eu percebi quando cheguei, fato este com o qual muito me alegrei. Engajado com isso, vi como propósito na minha vida, como metodista que sou, enquanto alguém que transita nos vários meios: este é um espaço onde eu posso realmente exercer o meu ministério. Então isso é marcante para mim, tanto para a minha volta quanto para a minha permanência.
Assim, olhando para estes dez anos, posso dizer que as maiores recompensas do ponto de vista institucional, estão na oportunidade do serviço e no privilégio de sermos hoje abordados, olhados, discernidos e entendidos como uma instituição equilibrada e teologicamente preparada. Eu ouvi de um colega diretor de um outro seminário, famoso no Brasil, muito conhecido, a observação crítica de si mesmo dizendo: “Nossa faculdade só consegue formar teólogos, por mais que a gente se esforce, só consegue formar teólogos”, e acrescentou a nosso respeito, sem sequer ter estado aqui: “Já ouvi falar que vocês lá conseguem formar pastores que têm coração e sem perda de qualidade teológica”. Isto é altamente recompensador, porque com responsabilidade podemos dizer: Graças a Deus nós estamos fazendo o que nos propomos a fazer. É recompensador, por exemplo, olharmos para a estética arquitetônica dessa faculdade. Há quem se encanta com ela, se encanta com o campus, mas ficam muito mais encantados, quando entram em uma sala e constatam a nossa visão, nossas ênfases, nossa missão; conversam com alunos e descobrem que eles estão saindo mais crentes do que quando entraram. Então, isso é realmente recompensador.
Pessoalmente, a maior recompensa que eu tenho aqui é fazer parte desse projeto. Todo mundo, e eu não sou diferente, tem a necessidade de significado, e eu sinto que tenho significado nessa caminhada histórica. Eu sou apaixonado por esse projeto. Obviamente, tem problema ali e aqui, mas, isto dá sentido para o meu pensamento, para minha ação, minha missão, põe concretude no meu chamado, põe sentido na minha vocação.
Posso dizer que, esteticamente, a expectativa inicial foi muito mais que superada, ao longo destes dez anos. Porém, mais do que isto, vale destacar que por trás da forma arquitetônica há um sentido maior: a filosofia, a visão, a missão que deram credibilidade para que alguém fizesse tão grande investimento. No início, nós tínhamos apenas uma convicção, nós queríamos preparar vidas para servir o Reino de Deus e é claro que ninguém esperava que as coisas fossem acontecer tão rapidamente e até porque, no contexto brasileiro, tudo que é grande hoje tem setenta, oitenta, noventa anos. Quem é que podia esperar que, em menos de seis anos, seríamos descobertos por alguém que nem acreditava naquilo que a gente acreditava, que nem tinha condições de acreditar na estética futura, mas que acreditou na visão e investiu nessa visão de forma que a mesma hoje se traduz na estética arquitetônica. Então, este aspecto arquitetônico, aspecto funcional é para nós uma grande surpresa. Assim como cada pessoa que entra neste campus, eu ainda me encanto, e me pergunto: “Meu Deus do céu, como isso pôde ser do jeito que é, do jeito que está?”. E, além disto, outra surpresa que é para mim agradabilíssima: ter a equipe que a gente tem. Nenhuma equipe é perfeita, mas a equipe que a gente tem se organiza pelas qualificações de cada um. Assim, é uma surpresa ter tanta gente boa, que se identifica com a visão, que entendeu o DNA e o código dessa instituição, que está puxando a corda do mesmo lado. O que temos aqui é uma equipe que realmente funciona. O que na verdade estamos dizendo é que o projeto é de Deus. É para ele. É dele.
Na verdade, hoje, o meu ministério quase se resume na minha atuação aqui dentro. Eu vou vivendo efetivamente, até por forças denominacionais e institucionais, a minha formação, por ser da igreja metodista, de pastor, clérigo, ativo. Embora eu não tenha uma igreja local, sou assessor episcopal. Eu também sou responsável pelo ponto de educação continuada, tenho outras áreas de atuação. Posso citar: sou vice-presidente da Sociedade Metodista Mundial, represento a Sociedade Evangélica na América Latina, estou participando do comitê para liderança a que pertence o comitê de Lausanne para evangelização e outros desenvolvimentos, sou ligado à Associação Americana Missiológica, como outros desenvolvimentos. Mas, é aqui que eu gasto a minha maior energia, prioritariamente na minha docência, porque eu amo dar aula, amo estar com os alunos, tenho uma paixão movida pelas suas ideias. Estou envolvido com o Centro Global de Missões, que é o projeto mais lindo dessa instituição, um cartão de visitas; tenho o privilégio de ser presidente do Centro Global de Missões, junto com Oswaldo Prado; eu também sou vice-presidente da ACESA, que é a mantenedora. Ou seja, estou no gatilho todas as vezes que o Antonio Carlos precisa ser substituído por questões de viagem, seja o que for. Já fui, aqui, coordenador de relações de questões institucionais. A minha vida hoje está mais dedicada à Faculdade. A minha preocupação é que a Faculdade não se torne minha caverna, isto é, num sentido negativo da palavra. Quero que a Faculdade se torne somente a minha casa, meu lugar, meu estilo, meu espaço de compartilhar treinamento de pessoas, e que seja também como um estilingue, um lugar que nos impulsiona para ir longe, para contribuir lá“.
*Depoimento concedido em outubro de 2003 por ocasião dos 10 anos de história.